A palavra grega sincretismo significa uma "fusão de doutrinas".
Sincretismo religioso, portanto, é a religião que deriva da fusão de duas outras crenças religiosas.
O sincretismo religioso da Bahia decorreu da fusão de duas crenças religiosas: o Cristianismo (predominante entre os Portugueses) e o Candomblé (predominante entre as nações africanas que enviaram escravos para o Brasil).
Muito teria que ser dito para descrever cada uma dessas crenças; vale destacar, entretanto, uma grande diferença (que torna o sincretismo ainda mais fascinante): o Cristianismo é religião monoteísta (de apenas um Deus - mas em que vários Santos são adorados), enquanto o Candomblé é panteísta (Deus está em tudo, e diversos elementos podem representar diferentes facetas de Deus).
Os senhores de engenho portugueses que colonizaram Salvador (ver História da Bahia) conheciam o poder que as religiões tem para causar revoltas e guerras, por isso proibiram os escravos negros de professarem suas religiões originais.
O Cristianismo, entretanto, era tolerado. Primeiro porque os jesuítas que vieram evangelizar brancos e índios eram muito poderosos politicamente. E também porque, na visão do catolicismo, o sofrimento era um caminho para a salvação (e por isso poderiam amansar os revoltosos).
Para contornar essa proibição, os escravos começaram a disfarçar seus deuses como os Santos católicos, e adoravam-nos. Esses Santos eram chamados de Orixás. Os locais de adoração, equivalentes às igrejas católicas, eram os Terreiros.
Apesar dos esforços dos Portugueses, jamais conseguiram eliminar orixás e terreiros da Bahia; eles conviveram lado a lado com o Catolicismo.
Para as nações africanas, os orixás tem origem em ancestrais de clãs antepassados, que foram deusificados há cerca de cinco mil anos. Acreditam que os orixás tem o poder de controlas as forças da Natureza.
Um dos mais importantes orixás é Exu, um intermediário entre o homem e os deuses, o guardião das estradas e cruzamentos.
Outros orixás são Xangô, Deus do fogo e do trovão; Iemanjá, Deusa dos mares e oceanos; e Iansã, Deus do vento e dos relâmpagos, possuidor das almas dos mortos.
Existem mais de 200 orixás na África; no Brasil, apenas alguns deles são adorados. Veja mais informações sobre os orixás mais cultuados.
Os cultos ocorrem nos Terreiros.
As autoridades do Terreiro são a ialorixá ou mãe-de-santo, e o babalorixá ou pai-de-santo; ambos vivem nos seus Terreiros.
Hoje, estima-se que existam mais de 2.000 terreiros em Salvador (o número de terreiros supera o de igrejas).
Os mais famosos terreiros são Ilê Axé Iyá Nassô Oká (a Casa Branca, o mais antigo terreiro do Brasil, criado em 1830), Ilê Axê Opô Afonjá (a "Casa da Força Sustentada por Xangô", criado em 1910, declarado Patrimônio do Estado da Bahia), e Ilê Axé Iyá Omi Iyamassê.
Ilê Axé Iyá Omi Yamassê é mais conhecido como Terreiro do Gantois, e teve como ialorixá, durante 64 anos, a Mãe Menininha do Gantois (1894 - 1986); ela foi uma das maiores divulgadoras do candomblé no Brasil, e ganhou seguidores famosos como Jorge Amado, Caetano Veloso e Antônio Carlos Magalhães.
A Igreja de Nosso Senhor do Bonfim é um dos melhores exemplos de como o sincretismo vigora até hoje; todos os anos, os fiéis se unem para adorar tanto os Deuses africanos como os Santos cristãos (este é o segundo maior evento da Bahia, perdendo apenas para o Carnaval).
O ritual da lavagem da escadaria da Igreja do Bonfim ocorre em Janeiro, no segundo domingo após o Dia de Reis (6 de janeiro).
A procissão de 8 km até a ladeira do Bonfim inicia-se às 10 da manhã na frente da Igreja de Nossa Senhora da Conceição a Praia, na cidade baixa. De lá, 500 mulheres com o tradicional vestido de baiana partem em direção ao Bonfim. Na igreja, usam água e lavanda para lavar os degraus, cantando hinos de candomblé.
A cada ano, milhares de brasileiros e estrangeiros visitam os terreiros de Salvador para receber as graças do babalorixá.